Um dos destaques do Encontro de Captadores de Doadores de Sangue e Encontro Técnico-Gerencial realizado pela Fundação Hemominas, no período de 26 a 28 de setembro, foi a participação da jornalista e escritora, Leila Ferreira.
Enfocando o tema “A arte de ser leve”, tema de um livro que escreveu há poucos anos, Leila salientou a necessidade de aprendermos a viver com menos peso na alma, menos tralhas na bagagem, menos aspereza nas palavras e nos gestos, menos azedume, menos pressa e consumismo. Enfim, viver de forma mais suave e descomplicada, como o exemplo citado em uma de suas entrevistas a respeito, “andar de bicicleta e não de carreta, despojando-se do peso e itens desnecessários”.
Ela lembrou algumas de suas experiências e passagens pessoais, profissionais, desafios enfrentados e de como lida e lidou com elas. E reforçou sua fala lembrando o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella: “Uma vida leve não é uma vida boba, banal, simplória; é uma vida com menos desgaste de energia em reação aos nossos cotidianos desvitalizados”.
Leila deixou claro que há pesos inevitáveis, sim, e, referindo-se à positividade tóxica – “que prega uma felicidade que não existe” – lembrou mais uma vez, Cortella: “Quem vive feliz o tempo todo não está entendendo nada”.
Segundo a escritora, vivemos hoje uma ditadura da felicidade – “A gente é obrigada a ser feliz! Achamos que os outros são mais felizes do que nós. Felicidade é homeopática, vem em gotas; é a soma de pequenas felicidades -um filho que nos emociona, uma amiga que nos faz rir, um pôr do sol maravilhoso, coisas assim”, pontuou.
Na mesma linha, ela relatou uma entrevista que teve com um psicólogo e sociólogo holandês, da Universidade de Roterdã, que há mais de 30 anos faz pesquisas e estudos sobre a felicidade. “Ele me disse que nesse tempo todo de pesquisas, envolvendo vários países, populações diferenciadas, contextos geopolíticos, econômicos etc., observou que nada garante a felicidade - dinheiro, saúde, realizações profissionais e amorosas – embora eles nos deixem mais perto dela. O mais importante que constatei é que a qualidade de vida depende fundamentalmente dos relacionamentos pessoais, tão necessários que deveriam ser ensinados na escola”.
Prosseguindo nessa reflexão, Leila ressaltou que conflitos existem em todos os ambientes – casa, trabalho, com amigos – e que é preciso cultivar e manter bons relacionamentos. E o começo passa pelo respeito, gentileza, educação: “Sem isso, não há como ter qualidade de vida. A falta deles adoece as pessoas e a nós mesmos, porque grosseria gera grosseria e o mal se propaga como num efeito dominó: o colega desrespeita o outro, chega em casa desconta na família e por aí vai. E o estresse virou desculpa universal para qualquer grosseria com o outro. Temos de reaprender a conversar – desafio do século XXI –, porque sem conversas a vida fica sem legendas, sem roteiro, sem saídas”, considerou ela.
Gentileza no trabalho
Como exemplos dos benefícios de comportamentos mais gentis e respeitosos, a palestrante cita iniciativas de gigantes da indústria norte-americana que investem em cursos para os funcionários aprenderem a conviver com mais gentileza e educação uns com os outros, gerando ganhos financeiros e psicológicos. E acentuou: “Faz parte da competência ser educado – chefe que precisa da grosseria para se impor, não merece ser chefe”.
Outra qualidade que ela aponta é o bom-humor: “Claro que não temos motivos para sermos bem-humorados o tempo todo – a alegria artificial, fabricada, é muito chata! Temos direito a uma hora, um dia e até uma semana de mau-humor, mas o tempo todo, não dá! E quando isso acontece, devemos nos abrir, falar com quem nos rodeia e dar um tempinho para nós mesmos até a onda passar. Por exemplo, recepcionista de mau humor é um erro da natureza”, disparou.
Em suas considerações, Leila destacou também a tirania do ter de fazer alguma coisa o tempo todo, seja nas férias, à noite, nos fins de semana, quando todos deveriam desacelerar pelo menos um pouco, permitindo-se pausas “ou micropausas” durante o correr da vida. “Até o lazer é carregado de distrações ansiosas, não nos permitimos viver o momento sem outras preocupações”, reflete.
Muito aplaudida por todos (cerca de 80 presentes), Leila finalizou: “A vida nunca vai lhe dar tudo o que você quer. Não pedir ajuda, não se abrir e infernizar a vida do outro é imperdoável. Pessoas que conseguem fazer a viagem de sair de si próprias para enxergar o outro, que pode ser seu colega de trabalho, o filho, a amiga de infância, o vizinho, a esposa ou marido, o paciente, o porteiro do prédio e, aqui, o doador, com certeza são capazes de deixar o mundo menos opaco, menos pesado, mais afetuoso. Não é tarefa fácil, mas é possível tentarmos e nos tornarmos seres humanos mais sensíveis, generosos e melhores”.
Ao agradecer a palestrante, a diretora técnico-científica da Fundação, Fabiana Camargos, ressaltou a importância da fala e a forma acolhedora, agradável e acessível com que Leila a conduziu. “Nós, que trabalhamos com a captação, temos de nos lembrar, sempre, que a cadeia da doação começa com o doador; dependemos dele e temos que recebê-lo bem e mostrar o quanto somos gratos por ele estar ali”, destacou.
Formada em Letras e Jornalismo, com mestrado em Comunicação pela Universidade de Londres, Leila Ferreira foi repórter da Rede Globo Minas, colaboradora de vários jornais e revistas e durante dez anos apresentou o programa Leila Entrevista (Rede Minas de Televisão e TV Alterosa), por onde passaram mais de 1.600 entrevistados. É autora de vários livros, entre eles os best-sellers A arte de ser leve e Que ninguém nos ouça.
Encontro
O primeiro a ser realizado pós-pandemia, o encontro de captadores e gerentes reuniu servidores de todas as unidades que tiveram a oportunidade de compartilhar suas experiências, ações exitosas e dificuldades nas gestões locais, apresentar propostas de melhoria, além de assistir a diversas palestras edificantes sobre a importância do envolvimento e sensibilidade necessários à captação doadores.
Avaliando o evento, o assessor Nivaldo Junior, da Assessoria de Captação e Cadastro da Fundação Hemominas, salientou: “O encontro dos captadores deste ano foi muito importante, pois foi o primeiro realizado presencialmente após a pandemia. Estamos promovendo a troca de experiências com palestras de captadores das unidades do interior, além de podermos realinhar objetivos e fluxos de trabalho para promover a doação de sangue voluntária, pautada na mobilização da sociedade”.
Gestor responsável: Assessoria de Comunicaçao Social