Homenagem póstuma ao médico Frempong marca o encerramento do IX Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme
Homenagem póstuma ao médico Frempong marca o encerramento do IX Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme
Referência no tratamento da doença, KOF faleceu no ano passado deixando um legado de luta para a saúde da população negra no Brasil
O IX Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme, realizado de 9 a 11 de novembro, em Belo Horizonte, encerrou-se na tarde do sábado (11) com um momento especial: a homenagem póstuma prestada ao médico ganense Dr. Kwaku Ohene-Frempong, KOF, como era conhecido, e que teve a presença de Janet Frempong, viúva do médico.
“Frempong foi um marcador de águas não só no Brasil, mas para várias populações afetadas pela doença falciforme ao redor do mundo”, destacou a presidente da Fundação Hemominas, Júnia Cioffi, ao salientar o papel essencial que ele teve na implantação de políticas e avanços quanto à visibilidade e atenção requeridas pela doença.
KOF iniciou sua luta e especialização em doença falciforme depois que seu filho, Kwame, foi diagnosticado com a doença, logo após seu nascimento. Desde então, o médico inspirou gerações de profissionais e pacientes na luta por mais qualidade de vida dessa população.
Abrindo a homenagem, a Dra. Clarisse Lobo, do Hemocentro do Rio de Janeiro, lembrou a trajetória de Frempong e como ele estimulou e enriqueceu a vida de quem o conheceu. “Falar do KOF é sempre uma grande emoção. Ele está muito presente dentro de cada um de nós e na memória dos pacientes que tiveram a felicidade de conhecê-lo. A história dele com o Brasil começou em 1999 e, desde então, foi uma inspiração para nós. Em 2005, quando foi criada a Política de Atenção à Doença Falciforme, a história dele com o Brasil passou a ser mais intensa: todos os protocolos da doença falciforme tiveram a colaboração dele, que também qualificou os profissionais na área. Trabalhamos juntos para a inserção da política de doença falciforme em nível internacional e fizemos diversas cooperações com países africanos. Ele participou de todos os simpósios que promovemos e teve papel fundamental junto a ONU, em 2010, na construção do Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Falciforme, celebrado em 19/06, o que colaborou para tirar a doença da invisibilidade. A lembrança da ternura, do carinho, daquele sorriso lindo e da dedicação vai permanecer em nós. Ele é um exemplo de ser humano no qual devemos nos inspirar”, afirma.
Durante a homenagem, a ativista e geógrafa Simone Bruna, representando as pessoas com doença falciforme, lembrou da importância do KOF em sua trajetória pessoal. “Em 2009, eu tive o privilégio de conhecê-lo. Até então, eu não fazia corretamente o tratamento com a hidroxiureia, porque a gente sai do consultório muito desinformado, com muito medo, e a bula assustava muito. Então, confesso, que eu não tinha a aderência necessária para levar o tratamento a sério. Até que eu ouvi uma palestra dele e suas palavras transformaram totalmente a minha vida. Se estou viva aos 37 anos, eu devo a ele. Lembro-me de quando ele me disse: “No mundo, o que tem pra você é a hidroxiureia. Então use!”. Participei de quatro simpósios com ele e aprendi muito. Com esse aprendizado pude educar outras pessoas que tinham resistência com a medicação, como eu tive. Ele sempre vai ser uma inspiração pra mim e todo trabalho que eu fizer vou dedicar a ele. Se estou aqui e posso transformar a vida de outras pessoas é porque ele existiu”.
Emocionada com as palavras de carinho, a viúva de KOF, Janet Frempong, também lembrou a trajetória do marido. “Desde que Kwame nasceu, KOF dedicou a vida dele a fazer com que cada pessoa com doença falciforme tivesse o melhor tratamento possível – ele via em cada um de vocês o nosso filho”, afirmou. “Agradeço de todo coração, como esposa do KOF e mãe do Kwame, a cada pessoa que, mesmo não tendo família ou filho com doença falciforme, se dedica a tratar e acolher os pacientes – e aqui me refiro não só aos médicos, mas aos enfermeiros, assistentes sociais, gestores, políticos, que se dedicam a melhorar a qualidade de vida da pessoa com doença falciforme. Frempong não está aqui, mas eu estou. Vou fazer a minha parte para que o trabalho dele não pare. Estamos juntos nessa luta”, assegurou.
Mascotes dos simpósios, nas mãos da presidente da Hemominas, Júnia Cioffi, vestem trajes alusivos à população quilombola mineira - Foto: Adair Gomez
Encerramento
A cada edição, os mascotes dos Simpósios são vestidos com trajes característicos do estado que sedia o evento. Este ano, eles representam as populações quilombolas de Minas Gerais, tendo suas vestimentas revestidas com fuxicos. O figurino foi produzido por Quésia Marques, da Dreminas.
Para a presidente da Hemominas, dra. Júnia Cioffi, a palavra que ficou do evento foi ‘esperança’. “Esperança por estarmos retomando a política de atenção à doença falciforme e os simpósios. Peço que vocês levem essa palavra no coração: vamos sempre esperançar. Porque a esperança é o que nos move na luta, na busca de coisas melhores”, pontuou.
O próximo estado a sediar o simpósio será Mato Grosso.
Gestor responsável: Assessoria de Comunicação Social