“A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”, verso da canção “Samba da Benção”, de Vinícius de Moraes, retrata com fidelidade um desses momentos mágicos que se transformam em arte quando o acaso, a oportunidade, se dão as mãos.

Isso é o que o doutor e cantor lírico Alexandre Carvalho, clínico geral que atua na Unidade de Coleta e Transfusão da Fundação Hemominas, localizada no Hospital Júlia Kubitscheck (HJK), e a cantora mineira Samantha Ayara, vencedora do “The Voice Brasil-2017”, vivenciaram: o encontro da música e medicina para celebrar vida. No caso, a vida que os doadores de sangue compartilham com tantos pacientes que dependem desse gesto nobre e solidário para sobreviver.

E a forma de homenageá-los, no Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue, comemorado neste 25 de novembro, foi das mais felizes: interpretar em dueto a música The Prayer, sucesso eternizado nas vozes de Céline Dion e Andrea Bocelli.

Como ressalta o médico, “com tantas incertezas, medos e apreensões provocados pelo novo coronavírus, que em 2020 provocou o recolhimento, o isolamento social das pessoas, afastando familiares, amigos, e, é claro, grande parte dos doadores de sangue, impactando diretamente os estoques da Fundação, nada mais gratificante do que celebrar o amor e a esperança, sob a forma de uma linda oração em feitio de música: The Prayer (A Oração)".

A música evoca fé, força, paz, justiça, esperança, fraternidade, amor, como descrito na estrofe:

Arte do encontro

Tudo aconteceu da forma mais inesperada: Samantha Ayara, cantora pop, doadora de sangue, comprometida com causas sociais e humanitárias, se encontra com o médico artista Alexandre Carvalho, cantor lírico e ator, na ocasião da triagem clínica para doação de sangue no HJK, na unidade de coleta de sangue da Fundação Hemominas.

No consultório, “essa moça cheia de tatuagens, com fala espontânea e riso solto”, como destaca o médico, responde às variadas perguntas relacionadas a sua saúde, tanto para sua proteção como para a segurança dos fragilizados receptores de sangue, mostrando-se apta para doar.

Conversa vai, conversa vem, e como a arte tem seus próprios caminhos para se manifestar, descobrem-se aptos para uma outra doação: a realização de um projeto já pensado algumas horas antes pelo doutor Alexandre: “Quando vi que era cantora, contei que éramos colegas de profissão e descobri que estava fazendo a anamnese da vencedora do “The Voice Brasil-2017. Imediatamente a convidei para fazer comigo o dueto. Na verdade, na manhã daquela quarta-feira, havia conversado com a gerente da Unidade de Coleta da Hemominas no HJK sobre a possibilidade de homenagear os doadores de sangue e os profissionais da saúde que continuam a desempenhar com bravura suas atividades, em meio à pandemia”, comenta.

Buscando conciliar a medicina com a arte, Alexandre Carvalho já participou de óperas no Palácio das Artes, em BH, e em outros locais. Fez vários cursos de canto na Itália e no Brasil.

Sonho e cidadania

A mineira de Belo Horizonte, Samantha Ayara, 23 anos, cursa enfermagem e canta desde os três anos de idade. Acabou chegando ao programa The Voice por insistência de um amigo. Sobre o dueto, revela:“O encontro foi muito legal e improvável. Sinto-me gratificada por compartilhar a maravilha que é a música e, assim, incentivar as pessoas a fazerem boas ações, como a doação de sangue”.

Doadora de repetição, Samantha tem o sangue tipo O negativo. Vale lembrar que as  tatuagens e piercings que ostenta não impedem a doação de sangue: o piercing, sefeitoem condições de antissepsia adequadas, exige que a pessoa aguardeseis meses antes de doar, e 12 meses quando não for possível avaliar. Já a tatuagem impede a doação de sangue por 12 meses. Esses impedimentos decorrem do risco de transmissão de agentes infecciosos relacionados a tais procedimentos.

Para Samantha, a doação, além da realização pessoal, envolve cidadania, comprometimento com o outro: “O processo é supertranquilo e tem todo o apoio e assistência dos profissionais da Hemominas, como a equipe médica e de enfermagem. Ninguém vai embora pra casa sem ter certeza de que está bem. Sem contar os lanches que a gente recebe”, conclui, espirituosa.

E como comenta Alexandre Carvalho, “depois dessa breve história, a única coisa que realmente precisamos é de um pequeno silêncio para que a música flua com toda sua potência para nos arrepiar e mostrar que, enquanto houver amor e arte, a gente sempre poderá, de uma forma ou de outra, se encontrar”.

É o que todos podem comprovar, assistindo o clipe.
 

Veja também os bastidores do encontro do médico e cantor lírico Alexandre Carvalho com a doadora de sangue e cantora mineira Samantha Ayara.